sábado, março 03, 2007

Amor

Sentimento mais enigmático! Por muito tempo me recusei a escrever sobre o amor. Talvez porque soasse piegas demais pra mim. Mas amor é mais do que pieguice! Mais do que qualquer uma de suas manifestações!

Não discordo da perspectiva subjetiva que os poetas atribuem a tal sentimento, mas acho que devemos empreender uma análise mais “objetiva” ou menos “valorativa” sobre o mesmo.

Confesso que passei por épocas em que estive bastante incrédulo quanto à existência do amor em si. Em certos momentos coloquei-o como uma confusão de sentimentos. Uma conjunção de vários deles que o homem insistiria em chamar de amor. Cheguei a escrever textos com facetas insurrectas, apelativas ou mesmo céticas. Um dia, talvez, eu publique algum deles.

Mas será que o amor é simplesmente uma conjunção de sentimentos? Não. Amor é mais que isso. O amor é uma força de caráter dúbio. Acredito que há aí duas dimensões: uma objetiva e outra subjetiva.

A dimensão objetiva consistiria nas circunstâncias práticas que caracterizam a vida de um indivíduo. Nesse panorama evidencia-se o arcabouço sócio-cultural do mesmo, uma intrincada série de peças empíricas determinadas existencialmente. A dimensão objetiva compreende, por exemplo, o encontro físico entre duas pessoas, bem como todos os aspectos que o possibilitaram.

Mas e a esfera subjetiva? Ah... Essa é a mais intrigante e, por isso, a mais interessante. Essa é a dimensão que faz do amor o mais peculiar dos sentimentos. E é a partir dela que discorro a seguir.

Em primeiro lugar, não confundamos amor com paixão. Paixão é algo de efeito intenso e muitas vezes alucinógeno, mas efêmero. A paixão pode, muitas vezes, não evoluir, o que mais denota uma atração sexual ou afetiva. Todavia – e essa é a pedra fundamental da reflexão – a paixão pode ser uma das fases do relacionamento entre duas pessoas. Pode ainda vir atrelada ou evoluir para algo muito misterioso e simbólico denominado “amor”.

Não pretendo nesse exíguo punhado de palavras conceituar algo com tanta complexidade mas apenas deixar explícitos alguns de seus elementos, tão determinantes em nossas vidas.

O amor, acima de tudo, é marcado pela “aproximação” entre duas pessoas. “Aproximação” num sentido bastante amplo, que vai desde a proximidade física até o compartilhamento de idéias, desejos e conceitos. “Amor” é uma fusão de individualidades que, ao mesmo tempo em que guardam a sua especificidade, combinam-se numa impressionante similitude. A paridade de gostos ou pensamentos não basta: é necessário um constante intercâmbio entre as diferenças.

E são justamente essas diferenças que fazem do amor algo tão nobre. Poucas coisas no mundo são tão dignas como amar a diferença: amar a outra pessoa como ela é, mas numa perspectiva mútua, de compreensão e respeito. A complementaridade entre duas pessoas é fundamental, possibilitando a constância da chama amorosa.

Por isso o sexo não pode ser encarado como necessidade pura e simples. Tem sim sua maravilhosa dimensão de volúpia e sua grande importância mas não deve ser alçado ao posto de fator primário. Amor é mais. Amor é mais que um simples afeto, uma simples divisão de pensamentos. Amor é comunhão. É compartilhamento. É empatia sem a perda do próprio “eu”. É o desejo de tornar o seu sucesso o sucesso da pessoa amada. Amor é tudo isso, mas sem uma gota de egoísmo. E é nesse sentido que podemos identificar a pureza e a beleza desse sentimento.

É essa “inocência” do amor, essa sua virtude de unir duas pessoas, independentemente das suas existenciais diferenças, que admite um singular relacionamento entre dois seres, inclusive de indivíduos do mesmo sexo, sem qualquer prejuízo da beleza ou pureza do sentimento em questão.

A cumplicidade que caracteriza o amor constitui-se numa das coisas mais sublimes do mundo. Quem realmente se identificar com essas reflexões, considere-se um “privilegiado”. Sim, um “privilegiado”.

Apesar de a linguagem nos oferecer a possibilidade de, por meio de seus signos, concretizar de alguma forma tais sensações, isso não é possível plenamente. Sábio Mann ao dizer que as palavras podem apenas louvar, mas nunca reproduzir a beleza que toca os sentidos. Um grande privilegiado. Os românticos e os amantes me entendem.




Se um dia o mundo estiver pegando fogo...

Nenhum comentário: