quarta-feira, maio 30, 2007

3 negativos - Sensação térmica: -10 graus

Deve ter geado aí...


Pelo menos a geada ainda insiste em contemplar a decadência... Aquilo que um dia pulsou com intensidade, mas hoje... Perece.

terça-feira, maio 29, 2007

Reminiscências do acaso

Eu sempre fui uma criança muito imaginativa. Mas as coisas que eu fantasiava eram bem menos sérias e decisivas do que minhas reflexões de juventude. Adorava fazer experiências, testar coisas, conhecer fenômenos. Vivia num mundo muito maior do que aquele captado pela visão imediata.

Quando era pequeno e ia passar férias na fazenda dos meus tios, viajava um pouco contrariado porque nunca gostei de campo. Sempre tive um certo desespero em me enfiar num tipo de isolamento, como se houvesse a possibilidade de acontecer alg0 de importante na cidade e que eu não pudesse presenciar. Então, nos primeiros dias ficava sempre muito entediado, até que ia descobrindo o que eu poderia explorar naquele novo universo.

Fora os experimentos que fazia, misturando diversas substâncias, em busca da "poção milagrosa", gostava de observar coisas da natureza. A minha vocação ao isolamento possibilitava que eu desse vazão às minhas próprias idéias e pudesse colocá-las em prática. Uma vez, acordando de manhã, notei o cadáver da maritaca que, dias antes, alimentava seus filhotes num ninho que perto ali ficava. Foi então que, depois de chorar pela sua morte - algo bem rápido, por sinal -, resolvi enterrá-la, com direito a missa e tudo. Meses depois estava revolvendo seus restos para verificar o que havia acontecido.

Queria ter continuado com aquela sagacidade de criança. Queria ter conservado aquela inocência. A mesma casa onde meus bisavós viveram, e que hoje é ocupada por meus tios-avós, tornava real os meus sonhos. Os roteiros que eu escrevia tinham, na sua maioria, aquele lugar como cenário. Eu conseguia, com uma autenticidade tão grande, viver as personagens que imaginava... Sentia com tanta intensidade as emoções delas, os seus medos, as suas angústias... Aquele ambiente antigo, cheirando a colonial anacrônico, me encantava. Cada detalhe: do asoalho de madeira polido a oito mãos até aqueles móveis, que eu jurava que ia levar quando minha prima fosse se desfazer deles (ela odeia aquelas antigüidades).

Aquele cenário me inspirava tanto... O porão, onde eu não entrava sozinho, tinha um cheiro tão característico... E eu olhava a enorme e pesada cruz que havia sido retirada da sepultura dos meus bisavós e fantasiava que eles pudessem estar enterrados ali. Tudo isso para que a história ficasse ainda mais emocionante.

Eram tão especiais aquelas noites brancas de farinha, com polenta na mesa, pão na fornalha e canudo depois do jantar... E eu inseria tudo aquilo nas minhas histórias...

Lembro-me de algumas. Lembro-me de uma que se passava na atualidade, em que eu era um homem sozinho que vivia somente dentro daquela casa, isolado do mundo. Nessas circunstâncias coisas iam acontecendo comigo naquele restrito ambiente. Outra história foi inspirada pelo meu tio, que contava os "causos" que envolviam os escravos do bisavô dele, histórias que tinham se passado nequele mesmo lugar, razão da minha inquietação em ficar lá sozinho.

Meu tio, na verdade mais avô que os meus verdadeiros, sempre esteve muito presente na vida da minha família nuclear. Não sei se pelo fato de não ter tido avós estruturados tradicionalmente eu acabei elegendo a figura desses meus tios-avós como avós de verdade. Acho que sim. Lá eu tenho a liberdade que não encontro na casa das minhas avós de verdade...

Todo jantar é acompanhado, ainda hoje, pelas histórias do meu tio. Variando a entonação conforme a gravidade do fato, suas palavras, descontinuadas pelos goles de vinho, vão formando habilidosamente frases que acabam sempre por revelar, ao final, algum sentido espetacular.

Nessa realidade, acrescida de muita fantasia, eu montava minhas histórias e vivia algumas das minhas personagens. Como num filme...

Às vezes me pego pensando nesses meus sonhos de infância. Eu queria tanto poder viver aquela verdade novamente... Sentir minhas personagens com sentia... e, por que não, chorar como eu chorava! Queria de volta todo aquele encantamento... Queria muito, muito...


Ouvindo: Villa-Lobos - Bachianas No 5

À parte

Os que conhecem se amedrontam. Alguns conhecem, mas esquecem e seguem... Outros conhecem, mas não se sensibilizam. E outros, que não têm idéia da verdadeira realidade, simplesmente vivem...

Nascem, vivem e morrem, como se existissem apenas para cumprir as regras do ciclo.

Nascem, vivem e morrem. Morrem sem ao menos saber que estavam vivos...

quinta-feira, maio 24, 2007

Escuridão

E tudo foi se apagando. Morri por 10 segundos. Senti medo. Insegurança. Impotência. Impossibilidade de explicação. Numa nuvem meio inconstante fui percebendo o sensível até voltar ao mundo do caos. E agora, aqui, escrevo...

Ouvindo: Protège-moi - Placebo

segunda-feira, maio 21, 2007

O centro está em toda parte

Hoje eu realizei um dos meus sonhos de infância de USP: subir na torre da Praça do Relógio. Estávamos de manhã especulando sobre os estudantes que lá haviam subido, quando veio o espasmo: "Gente, vamos subir lá?". A idéia foi contagiante e então combinamos a aventura para depois da aula.

Acontece que umas amigas não puderam, mas a Aline estava lá, firme e forte, como uma criança prestes a sentar na cadeira do Papai Noel. Só que estava muito cheio e então resolvemos voltar mais à tarde, uma vez que lá em cima o espaço é bem pequeno.

6 horas. Pensei que a louca da Aline havia esquecido. Mas não. 6h05 ela me liga: "Rido, vamos!" Hahahaha "Vamos!". E fomos. Ainda havia bastante gente lá no topo, mas o movimento estava menos intenso. Começamos então a subir. Olha, valeu só pelo que eu ri da "Lininha"!


Na metade do caminho, "Rido, vamos voltar! Já tá bom". Eu me acabando de rir: "Vamos até o fim agora! Você não queria subir? Então!". Subimos aquelas centenas de degraus enquanto outros desciam, depois de já terem contemplado a vista. Enfim, chegamos. Estava cheio lá em cima, mas menos movimentado do que durante o dia.

Aquilo é bem alto e a vista é bastante legal. Dá pra ter um ângulo bem singular da USP. De lá a gente percebe o privilégio de termos um reduto desses em plena selva de pedra paulistana. "Nossa, Rido, será que se alguém pular daqui morre?"; "Não, Lininha, só de despedaça em dez mil partes.".

Como o povo é louco! Lá em cima disseram que algumas pessoas chegaram a ficar sentadas na mureta, apreciando a paisagem. Imaginem! Sentado na mureta do relógio, como se tivessem na beira da piscina. Passei mal só de pensar...

O mais interessante é que o trânsito pelo monumento não representa uma simples aventura turística: simboliza a resistência estudantil ao cerceamento da autonomia da universidade. Mais que isso: demonstra o exercício da idéia de "Universidade Livre", como estava estampado na faixa que hoje cobria a torre.

domingo, maio 20, 2007

...................

Por que sempre buscamos as saídas? Será que cada problema sempre está acompanhado da sua resolução? Pergunta vã, uma vez que resposta não podemos encontrar. É vã, mas não deixa de ser inquietante.

Interessante como a vida nos coloca diante de uma série de questões intrigantes. Verdade também é que elas nem sempre são encaradas da mesma forma. Tudo depende de um contexto, juntamente com experiências já concebidas. Assim, problemas insolúveis para alguns podem ser considerados ridículos para outros. Portanto, a dimensão atribuída não depende do problema em si, mas do sujeito que o detém. É sim mais uma questão de relativização.

Sei lá por que eu tô escrevendo isso. Eu tenho pensado muito nessa questão existencial da convivência constante do ser humano com problemas. A vida é um problema em si. Mas, por favor, "problema" aí está sem pejoração. Sendo a existência um núcleo problemático, viver se torna uma tarefa obrigatória até o momento em que ainda é mais valorizada em relação à sua própria anulação. Em outras palavras, vivemos porque achamos isso melhor do que a não-vida, o que não é o mesmo que morte.

Mas uma questão, imediadamente, me vem à cabeça: será que preferimos viver e personificar o caos ou temos, na verdade, medo do contrário a isso tudo? Spinoza nos diria que esse processo de extinção da própria existência pode ocorrer com a incompatibilidade entre o corpo e o fluxo dos afetos. Concordo e muito com essa concepção, mas acho que a anulação da própria vida está diretamente ligada à anulação desse medo em relação ao desconhecido, ao incerto.

Essas não são ideías suicidas, pelo amor de deus, mas fazem parte de uma reflexão feita com uma grande amiga, que também adora a discussão de uma existencialidade. Ela já é mais radical. Essencialmente platônica, acha que vivemos no próprio inferno: "O inferno é aqui e a nossa corporificação se constitui no mais pesado dos fardos que uma existência pode compreender".

Um coisa é certa: apesar desse medo do improvável, indivíduos especulam a todo momento o que haveria do outro lado. Constantemente, encontram-se à espreita, tentando pelo álcool ou pelos alucinógenos, contemplar algum mistério desse "inimaginável". Esse nada tão enigmático, talvez maior do que tudo o que podemos imaginar. Estranho isso.

Pontualmente

Parece meio bizarro, mas eu perdi, ano passado, em meio às minhas coisas (vulgo bagunças), um dos meus relógios. Até que gostava bastante dele. Fato é que todos os dias, pontualmente, ele toca às 7:30 da manhã. O curioso é que, mesmo mudando de quarto, não consegui achá-lo. Ele se encontra infiltrado em alguma das minhas bugigangas e utiliza-se de todas as artimanhas para se manter na discrição. Mas todo dia faz questão de ser lembrado e não cessa de fazê-lo. Reloginho cruel esse, viu!

sexta-feira, maio 18, 2007

Complicações...

Há momentos complicados, em dias complicados, de épocas complicadas. E essas duas últimas semanas têm evidenciado isso. A morte de uma professora querida, a dissolução iminente de um grupo de amigos (por puro egoísmo e ignorância, diga-se de passagem), uma gripe que não vai embora de vez, uma atmosfera de tensão na universidade e de incerteza na ECA e, para completar o circo, um novo show da filha da mãe dessa velha que não tem o que fazer da vida a não ser implicar comigo (injustamente e sem nenhum critério racional, diga-se de passagem). Vai se fuder, sua velha! Tô cansado! Realmente cansado!

É complicado. Muito complicado...


Ouvindo: Dazed and Confused - Led

segunda-feira, maio 14, 2007

Indeterminado

Tudo indica que neste ano teremos uma greve longa. Se depender dos boatos que perfazem os corredores da faculdade, as negociações não serão rápidas. Alunos, funcionários e professores estão se unindo e buscando se concentrar na principal reivindicação: a manutenção da autonomia universitária. A reitoria não se posiciona claramente, o que provoca a indignação dos estudantes, e com razão.

Não podemos deixar morrer uma das únicas instituições públicas que ainda nos orgulham de alguma forma: a universidade paulista, razão precípua da minha migração.

Contra a burocracia! Viva a autonomia! Panfletário, não? Hahahaha Mas é sério...

O pior de tudo isso são algumas idiotas que acham que a competência de uma universidade pode ser medida pelo número de prêmios Nobel conquistados. Coitada! Percebe-se que ela não fez mesmo USP...

Ouvindo: Rooney - I'm a Terrible Person

sábado, maio 12, 2007

In the alleys of this town

"Leave me bleeding on the bed
see you right back here tomorrow
for the next round
keep the scene inside your head
as the bruises turn to yellow
swelling goes down
and if you're ever around
in the city or the suburbs of this town
make sure you to come around
I'll be wallowing in sorrow
wearing a frown"

Como eu amo "Pierrot the Clown"!

Pierrot The Clown - Placebo

quinta-feira, maio 10, 2007

Ficção e realidade

As coisas passam tão rápido, não? Esses dias mesmo estava eu na sala dela, conversando como sempre gostei de fazer. Ela era muito simpática. Discutíamos sempre sobre ficção de TV; metíamos o pau nas novelas, falávamos de autores, era muito agradável.

Hoje soube que ela havia partido. Fiquei meio bobo. Afinal, a notícia foi dada inesperadamente. Ela disse que ia no meu espetáculo. "Pode chamar que eu vou mesmo!". E pode saber que ia. Era muito competente, mas, mais do que isso, gostava de saber o que o aluno realmente havia aprendido.

Eu juro que, se eu soubesse que ela iria embora, teria ficado mais, conversado mais, compartilhado mais. Não quis vê-la por uma última vez. Quis guardar a última imagem dela: nos abraçamos e eu saí daquela sala como se fosse a ver por muito mais tempo ainda.

Não gosto dessas coisas fúnebres, mas acho que ela merece esse espaço, essa minha homenagem. Uma homenagem a você, professora Lourdinha.

quarta-feira, maio 09, 2007

Da leviandade do cristão

Quanta pompa! Nas ruas, o povo coitado luta desesperadamente para ter diante de seus olhos, pela única vez na vida, a figura de alguém que dizem ser "santificado". As senhoras, mesmos com suas dores típicas, agüentam o frio do dia com as menores temperaturas do ano. Há também jovens, que bradam em exíguas vozes um couro sem muita razão, querendo imitar o "Giovanni Paolo! Giovanni Paolo!" das crianças italianas. Há gente de todo tipo. Há mendigos que olham toda aquela movimentação sem muito entender o motivo da alegria. Afinal, a vida é tão ingrata e nada mudará depois disso.

O desfile do "papa-móvel" parece a contemplação medieval das relíquias sagradas. Só falta pagar. E as pessoas acreditam no poder santo daqueles cabelos brancos. Ele é tão sereno. Passa uma paz tão grande, só poderia mesmo ser um representante divino.

O rubro acetinado misturado à túnica alva constituem o figurino das celebridades. Como adorno e signo de afirmação, os espessos cordões de ouro, cada um com uma polpuda cruz, pendem nos pescoços sagrados.

Tudo isso é muito lindo! E uma grande festa!

Pena que é tão falsa. Falsa, alienante e, muito mais do que isso, hipócrita. Como uma igreja que nunca se libertou dos luxos e regalias dos quais sempre dispôs pode dar pitaco na vida alheia! Como alguém que mal come pão da menos vagabunda farinha pode falar de combate à fome? E o dinheiro movimentado pela própria igreja com a vinda do seu mais alto representante? Não conta? E o dispendioso cerimonial que o Vaticano sustenta para que todos babem, mas babem com conforto – é necessário frisar –, nas saias do grande pontífice?

A igreja continua a mesma. Salvo algumas transformações, que existencialmente teriam que ocorrer para que ela se mantivesse, continua a mesma. Mas a imagem do indivíduo alienado olhando a figura do papa, hoje, é absolutamente a mesma de séculos atrás.

E a sociedade também não mudou muito. O cerne fundamentalmente é o mesmo. Aliança entre Igreja e Estado na época moderna. Aliança entre Igreja e Estado na atualidade. O paralelo é evidente. E é absolutamente ridículo que, no século XXI, ainda não tenhamos um Estado verdadeiramente laico. Não são somente os inúmeros símbolos do cristianismo que presenciamos em Brasília que nos evidenciam isso. A recepção exageradamente dedicada dos nossos representantes políticos ao chefe da igreja católica deixa-nos bem claro que o Estado brasileiro não respeita a liberdade individual e, muito menos, zela pela igualdade dos seus cidadãos. Mais do que incoerência, isso se constitui numa tremenda falta de respeito aos outros credos.

Quando, aos treze anos, presenciei em uma missa a reserva de lugares a políticos da cidade, deixando, de pé, velhos senhores e senhoras, tive a certeza de que tudo aquilo ali era banhado por muita coisa errada, muita coisa superficial. Eu me revoltei no meu pequeno âmbito, mas a minha família, com essa mesma postura de alienada, me condenou. Afinal, a igreja deveria ter alguma razão para aquilo.

O mais cruel é a sensação de, ao lermos a história dos séculos anteriores, pensarmos que vivemos em uma realidade bastante diversa. A igreja ainda continua com o seu pedantismo interventor e o Estado, encabeçado por uma elite ávida por se manter no topo, ainda busca o apoio da religião. A retórica da igreja ainda é bastante eficiente. O papa, coitado, condena o aborto. E, enfaticamente, diz que "a fé salva". Salva sim. Salva a igreja da sua derrocada definitiva. Mas... Viva o papa!


Fica a reflexão.

terça-feira, maio 08, 2007

Desajuste

E o espectro da greve ronda a USP... Mas o fim já é por todos conhecido; não será revolução!

domingo, maio 06, 2007

Muitas são as janelas

Não posso deixar de registrar, mesmo que sem tempo, algo sobre o novo programa da TV Cultura, "Direções - Por um Novo Caminho na Teledramaturgia", ao ar todos os domingos, a partir das 21h. Será uma série que vai reunir diretores teatrais de destaque no cenário contemporâneo, coordenados pelo Antunes Filho.

E, logo de estréia, quem nós tivemos? O Rodolfo García Vásquez, dos Satyros, que dirigiu, "O vento nas janelas", um teleteatro que lembra em muito os formatos dos teleteatros italianos e chilenos, mas com uma diferença: um novo perfil de narrativa, com a perspectiva crítica e ousada característica dos Satyros, perspectiva essa que me encantou desde o primeiro espetáculo que assisti.

O roteiro é muito peculiar porque, apesar de tratar de algo praticamente raro na ficção televisiva - travestis, homossexualismo e boca do lixo -, aborda temas tão presentes nos dias de hoje, particularmente em relação ao indivíduo urbano e impessoal, sobrevivente de um mundo caótico desencantado e que ainda tenta resguardar para si a qualidade de "racional".

"O vento nas janelas", como o espetáculo "Inocência", força-nos a uma reflexão profunda sobre o sentido da vida e, numa concepção mais ampla, sobre o rumo que estamos tentando escolher para seguir. Percebemos o quanto perdemos tempo com mínúcias e mediocridades numa existência tão curta e, mais do que isso, tão frágil.

Ouvindo: Meds - Placebo

terça-feira, maio 01, 2007

Favourite Worst Nightmare

Um comentário bem rápido: o novo álbum dos Arctic Monkeys tá demais! Bem que disseram que poderia superar o primeiro. Eu adoro a ousadia e a originalidade deles! O que é "Balaclava"? Simplesmente muito bom!

Ouvindo: Do me a favour - Arctic Monkeys

I can't cross over anymore

Não reconheço mais esse ambiente. Definitivamente. Andando pelos lugares que faziam parte do meu cotidiano sinto um misto de nostalgia e distanciamento. As ruas do centro já não mais as mesmas. Pareciam tão grandes, tão largas para uma cidade de interior. O glamour dos antigos cassinos, os prédios em estilo neoclássico, o jardim inspirado em Versalhes, as fontes que jorravam o requinte e a história da importante estância agora são vistos com um olhar de turista.

Andando pela avenida que me conduz ao centro, "Belfast", do Elton John, está tocando e me traz todo um arcabouço de lembranças. Mas são lembranças que mais se relacionam a uma vida passada. Que silêncio! Que pessoas calmas! Que tranqüilidade maçante!

Começo a me irritar com as coisas. Aquilo que antes me parecia comum é agora estranho, tão estranho que passo a comparar com meu novo planeta. Como o mundo aqui é pequeno! Como as pessoas têm uma vida instrumental! Que viver mais utilitarista!

Sem questionamentos, sem qualquer indagação. Tudo é muito estanque. Um absurdo sentimento conformista, como se as coisas se resolvessem por si mesmas. Chega a ser deprimente.

O mais engraçado é que, mesmo quando integrado a isso, eu já me sentia assim. Eu percebia e sofria com essa situação. Aquilo era muito pequeno. Um mundo maior e mais dinâmico haveria de existir.

Não faço mais posts sobre isso. Não gostei do tom.