terça-feira, fevereiro 27, 2007

Um sonho estranho

Nossa! Tive um sonho tão estranho nessa última noite! Sempre tenho uns sonhos meio estranhos. Mas essa foi a primeira vez que isso me ocorre depois de ter feito o blog.

Eu estava vestindo uma roupa normal: uma camisa xadrez, com calça de veludo cotelê cáqui e All Star, com um detalhe, era All Star, porém coberto por uma carapaça estranha, tipo um protetor frontal.

Num ambiente bastante movimentado, com uma gr
ande concentração de pessoas, eu me encontrava parado, sem saber o que fazer, como agir. Foi então que me dirigi às primeiras pessoas que vi. Um pouco desesperado, tentava lhes perguntar por algo, não me pergunte o quê.

O excêntrico é que as pessoas não falavam comigo. Simplesmente me ignoravam. Eu as olhava no rosto, fazia gestos, malabarismos com as mãos, gritava, mas nada. Nada.

Repentinamente apareço no espaço exterior do Center 3. Uns guardinhas saem daquela espécie de “depósito” à direita (onde são guardados aqueles biombos) e me fazem tirar os All Star e a camisa (engraçado que tirei a camisa mas não fiquei sem camisa).

Nessa hora, um caminhão sobe para o espaço, mas sobe direto do piso abaixo do térreo. Pára ao meu lado. As pessoas começam a me ignorar novamente. Sorrateiramente, carregadores vão montando uma enorme urna de aço inox toda brilhante. Isso no centro da entrada.

Depois de montá-la, os homens entram no caminhão e saem em alta velocidade. O guardinhas se dirigem à urna, depositando lá o que haviam a mim requisitado.

Num gesto de desespero, saio correndo pela Paulista, vendo as pessoas em flashes e ao som de "Rock and Roll Queen", dos Subways. Parece que eu estava me imaginando atuando naquilo tudo, mas ao mesmo tempo me dirigindo. Imaginando como se fosse a cena de um filme. Um grande caos!

Depois de correr um pouco, avisto uns amigos antigos. Eles começam a discutir comigo e então... Não me lembro de mais nada.

O que são os sonhos senão um outro mundo!

Cada coisa que a nossa mente cria! Que mundo mais surreal é esse! Interessante!



Rock and Roll Queen - The Subways


Avenida Paulista, 30 de janeiro de 2007.

sábado, fevereiro 24, 2007

"Capitale de la Douleur"

"Uma das mais belas cenas da história do cinema". É como pode ser caracterizada a cena de "Alphaville" na qual a sedutora Natacha Von Braun (Anna Karina) e o misterioso agente Lemmy Caution (Eddie Constantine) trabalham cuidadosamente com gestos e olhares na busca de uma quailificação para o amor, procurando incutir nas palavras algo mais intenso do que sua simples pronúncia.

Auxiliados por muito jogo de luz, com as intermitências típicas de Godard, o casal discute o significado do mais paradoxal dos sentimentos, construindo toda uma atmosfera de romantismo, mas também de reflexão, em torno da poesia de Paul Éluard.

Godard tem o cuidado de conciliar os versos de "Capitale de la Douleur" com os movimentos de Natacha e Caution, reunindo todo o conjunto sob um fundo musical totalmente oportuno e envolvente.

Realmente, é uma magnífica cena! O filme já é obra consagrada, mas não poderia, depois de assisti-lo pela quarta vez, deixar de registrar esse momento áureo da película.

Os versos são ditos correntemente. Cometendo o pecado de traduzi-los (toscamente):

"Tua voz, teus olhos, tuas mãos, teus lábios
Nosso silêncio, nossas palavras
A luz que se vai
A luz que volta
Um só sorriso para nós dois
Por querer saber, vi a noite criar o dia
Sem que mudássemos de aparência
Oh, bem-amado de todos e bem-amado de um só
Em silêncio, tua boca promete ser feliz
Quanto mais longe, diz o ódio
Quanto mais perto, diz o amor
Pela carícia, deixamos nossa infância
Vejo cada vez melhor a forma humana
Como um diálogo de amantes
O coração tem uma só boca
Todas as coisas ao acaso
Todas as palavras ditas, impensadas
Os sentidos à deriva
Os homens giram na cidade
O olhar, a palavra
E o fato que eu te amo
Tudo está em movimento
Basta avançar para viver
Seguir em linha reta

Na direção de tudo o que amamos
Eu ia em sua direção
Eu ia na direção da luz
Se você sorri, é para melhor me invadir
Os raios dos seus braços descerram a névoa".

Desculpem por um outro post de caráter cinematográfico, mas não podia deixar passar.

"Basta avançar para viver
Seguir em linha reta

Na direção de tudo o que amamos
Eu ia em sua direção.
Eu ia na direção da luz".

No mínimo, é bastante inquietante. O amor como guia, o amor como razão, por mais incoerente que isso pareça. Talvez o filme de Godard nos ajude a enxergar com mais lucidez alguns dos enigmas humanos.




(Para assistir à cena, clique na legenda em azul.)

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Só pra constar

Tous les garçons et les filles de mon âge
Se promènent dans la rue deux par deux
Tous les garçons et les filles de mon âge
Savent bien ce que c'est d'être heureux

Que lindo é a Isabelle (Eva Green), ao som de Hardy, entrando no "café" pra se encontrar com o Matthew (Michael Pitt) em "The Dreamers"! Tava hoje me lembrando disso e das tomadas espetaculares do Bertolucci.

O que é aquele jogo de espelhos!



(A segunda foto é a do fantástico "jogo de espelhos"; já a primeira, não resisti!)

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Bizarrices – Episódio 1

Saindo um pouco dos posts existenciais, vou falar de algumas coisas engraçadas/bizarras/“nada a ver” que aconteceram comigo. Na falta de outro nome, chamo a série de “Bizarrices”. Neste episódio será apresentada a primeira aventura.

Estava eu em casa quando resolvi ir até a farmácia colocar créditos no meu Bilhete. Cumprido o objetivo, saí do local e comecei a andar pela rua, acompanhado das minhas fatídicas observações. Quando ia atravessá-la, olhei para ver se estava livre. Ao olhar, estava vindo um dos ônibus que tinham como destino o Anhangabaú.

Sabe aqueles lapsos que te dão, de conseguir pensar em dez coisas num centésimo de segundo? Então. Tive um desses. Quando li a indicação do destino do ônibus, me deu uma vontade enorme de ver o centro velho dessa cidade, aquele lugar que a maioria das pessoas julga como “sujo”, “mal-freqüentado”, “poluído”, enfim, são várias as qualificações negativas.

O ônibus parou no ponto e eu, numa decisão de um segundo, entrei com uma ânsia impressionante de sentir aquela atmosfera, que, ao mesmo tempo em que se mostra degradada e grotesca, me atrai de uma incrível maneira.

E foi isso que senti. Pisar naquele centro, às oito e meia, nove horas da noite, foi pra mim como um cigarro pro fumante inveterado, pra não dizer outras coisas. Aquele Municipal, com suas luzes verdes, permeado de pedintes e pessoas que correm pra casa depois de mais um dia de sobrevivência! Aquilo me encanta. Mendigos sentam naquelas escadarias, olham aquelas esculturas e inscrições (“Verdi”, “Bizet”, etc.), talvez sem a mínima noção do que representam.

O Viaduto do Chá dando passagem àquele mundaréu de gente! A Prefeitura, naquele lendário e contraditório prédio, cercada, com medo da invasão de uns integrantes do MST que ali estavam acampados.

A Líbero Badaró então me leva até o Largo São Francisco. Esse caminho foi meio complicado, uma vez que a rua já tava bem deserta. Mas fui me dar conta disso só depois, quando já via o prédio da Faculdade de Direito. Como aquele ar me fazia bem! Como aquilo me satisfazia!

Claro que tive um pouco de receio nessa hora. Umas pessoas começaram a me olhar: “O que esse menino faz aqui a essa hora da noite?”, “Ele não é desse mundo!”. Foi então que comecei a apertar o passo até a Praça da Sé, onde o movimento de pessoas era um pouco maior. E fui andando até fechar o trajeto, passando pelo Pátio do Colégio, pelo Mosteiro de São Bento e pegando novamente a Líbero. Senti um misto de medo e prazer. Prazer pela transgressão? Ou por ter algo em comum com aquele cenário?

Voltei então ao Viaduto do Chá, onde, apoiado naqueles cansados tubos que guarnecem a passagem, fiquei admirando o Anhangabaú, que, por sinal, estava muito mal iluminado. Mas isso nem fez diferença. Vi coisas ali que nem a luz do dia poderia me mostrar com tanta nitidez.

Avistando o Viaduto Santa Ifigênia, tive a lembrança de um dia que marcou muito a minha vida, um dia em que o silêncio daquele lugar era ferozmente suplantado pelo turbilhão de sentimentos que se instalava dentro de mim.

Saí dali bem feliz. Caminhei até o ponto mais próximo e ali esperei meu ônibus, aproveitando aqueles restinhos de Centro. Então, de ônibus, refiz todo aquele meu caminho, agora um pouco mais tranqüilo.

E voltei. Não imaginava que sensações tão boas estavam à minha espera. Como aquilo me fez bem! E nem foi planejado! Nada! Nada!

Alguns podem achar isso “meio estranho”, outros, “muito estranho”. Enfim, me fez muito bem. Que foi excêntrico, ninguém pode negar.

Ah, um detalhe: tudo isso ao som de umas músicas recentemente a mim apresentadas. Destaco um trecho de uma delas:

Louder, louder

And we'll run for our lives
I can hardly speak I understand
Why you can't raise your voice to say

Run – Snow Patrol

Foto: Vale do Anhangabaú.
(Créditos: Felipe Aguillar)

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

“Não existe 'arte'. Existem apenas artistas”

Se Gombrich estava correto, não posso responder. Mas isso nem vem ao caso. O que quero mencionar aqui é a importância de “algo” denominado (perdoem-me os categóricos) como Arte.

A Arte. Existe algo mais enigmático do que a Arte? Talvez o amor? As inquietudes humanas (tirando os 80% de fundo amoroso)? Enfim, pode até haver. Todavia, a Arte se constitui em algo ímpar, inigualável a qualquer outro tipo de manifestação da natureza humana. E inigualável em todos os sentidos.

O mais intrigante, e instigante, é como a Arte tem a capacidade de tocar na mais profunda faceta da existência humana. Por que nos emocionamos ao ouvir determinada peça musical ou ainda assistindo a um espetáculo?

Não nos esqueçamos, no entanto, que Arte está intimamente relacionada, juntamente com seus padrões estéticos, à estrutura cultural de um povo. Assim, o que pode ser apreciado por alguma cultura pode ser totalmente execrado por outras. Consideremos, pois, todo o aparato possível de “óculos sociais”, bem como o arcabouço intelectual empírico de cada indivíduo.

Feitas as devidas ressalvas e voltando ao assunto mais interessante, a Arte pra mim, seja em que cultura for, é importante na medida em que consegue se identificar com a nossa essência, comungar com a nossa mais íntima subjetividade, sem que para isso tenha que pedir algum tipo de autorização. Ela nos comove de uma forma singular. Seus efeitos são sentidos por nós numa perspectiva tão inconsciente que não podemos, muitas vezes, controlar nossas próprias reações psicofisiológicas. Digo: não controlamos uma lágrima, um nó na garganta ou ainda uma reflexão após o contato com alguma obra que nos marque.

E é essa, a meu ver, a função da Arte. A de promover a libertação humana, mas num sentido abrangente. Abrangente numa concepção que talvez poucos me compreendam.

Por isso que considero o Teatro como algo realmente impulsionador na vertente da transformação social. Não como títere da comédia e do drama. Não como corpo reificado pra fazer rir, chorar ou simplesmente distrair. Muito menos algo que faz da “quarta parede” um obstáculo intransponível e do palco uma trincheira da realidade social.

Teatro é muito mais que isso. E deve ser muito mais que isso. Deve ser encarado como agente instigador de reflexão. Para “mudar o mundo”? Não. Para mudar as pessoas.

Se temos a “iluminação” suficiente para detectar algumas das enfermidades que acometem a sociedade atual, por que não apresentá-las para essa mesma sociedade sob a forma de Teatro, lançando mão das peculiaridades da Arte? Por que não promover alguma “diferença”, mesmo que exígua, nessa nossa realidade?

Não sejamos medíocres! Não caiamos no senso comum! Talvez essa curta existência seja única: pra que torná-la algo tão cego e descabido?


*To be continued…


"Maculada Sanidade", de Flávia Junqueira.
(Obra que conheci hoje e que, por um acaso, tem tudo a ver com o meu texto. Mais: Clique aqui).

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Este blog

O azul não é por acaso. Tem toda uma simbologia. É com o azul que o bem é representado; é no azul onde se voa; é com azul que se dá o encontro entre o céu e o mar; é no azul onde muita vida principia. V-I-D-A! Quatro signos tão inocentes e que, ao se combinarem, passam a representar algo com tanta complexidade! Algo que uns tanto valorizam e outros descartam num simples salto ao acaso.

O "conjunto de vidas" e seu inter-relacionamento resultam nisso que vivemos, nessa realidade desenfreada, perplexa e inquietante. Nesse caos. E, em meio a esse caos, surjo eu. "Eu". Um desesperado tentando entendê-lo. Insistindo na intrincada e laboriosa tarefa de compreender algo sob a égide de uma deficientemente profícua razão humana. Ah! Que "inocência" essa minha!

Fico realmente intrigado e esse impasse interno se intensificou nos últimos tempos. Por que existimos? Qual o sentido de tudo? Aliás, há um sentido? O que significa a idéia de "sentido"? Será essa uma concepção correta ou mesmo válida?

São esses alguns dos questionamentos que pretendo expor nesse meu mural virtual. Relutei um pouco em torná-los públicos, mas me decidi por fazê-lo (destaque para o incentivo de uma pessoa realmente especial na minha vida).

Mas não se alarmem! Não será um blog somente de questões de magnitude metafísica. Afinal, o que seriam dos eruditos se não existisse o vulgar, o popularesco, o coloquial. E será esse um dos atributos desse espaço: a pluralidade, a desconstrução e a crítica farão presença nos posts. Mas teremos também as doces futilidades da vida, doces por conseguirem torná-la algo tão menos proposital.

Demorei, confesso, pra montar um blog. Sempre fui mais de caneta e papel. Esse texto mesmo: foi todo redigido a mão, com todos os meus rabiscos, as minhas correções. Não sei, no papel sinto uma fluidez maior, uma maior liberdade. Adoro escrever a meia-luz ouvindo Satie ou ainda algo me possibilite ativar os recôndidos da inspiração e da esfera imaginária.

Os que gostarem dos meus comentários, seria interessante que postassem. Os que não os apreciarem, eu imploro que postem! Adoro um debate. Que fique esclarecido. Ah! Odeio clichês, apesar de lançar mão de muitos deles e julgar alguns extremamente necessários (isso será tema de um post futuro). Assim, adoro o ousado, o inovador. Disponho meu texto da forma que mais me agrada, mesmo que isso transgrida os padrões formais da gramática normativa de nossa língua. Juro que será conscientemente. Neologismos mantêm viva uma língua!

Uso muitas exclamações. É porque acho que muitas reflexões não podem ser finalizadas com um simples ponto final! Tantas coisas na vida poderiam acabar com exclamações em vez de terminarem com um simples "pontinho"...

Não gostei muito desse layout. Mas é provisório. As coisas devem sempre se transformar. Queria um contrate de cores, mas minhas restrições em programação virtual me impediram de realizar algo que mais me agradasse. É um layout simples. Simples para que dê lugar, não ao meu texto, mas à reflexão que pretendo engendrar.


É nesse caos da realidade-irrealidade que me despeço desse meu texto primórdio. O embrião. Os desesperados, juntem-se a mim! Garanto-lhes apenas uma coisa: ficaremos ainda mais desesperados! Voilà!