quarta-feira, setembro 12, 2007

A ironia do inconciliável

Por que as tardes lá na escola, principalmente quando o céu estava bem cinzento, eram tão especiais? Tão boas de serem sentidas?

Acho que todas as minhas neuroses com notas e bom corportamento convertiam-se em satisfação quando aquele ambiente de tensão e, por que não medo, era coroado por uma tarde de iminência de chuva, tarde escura, com nuvens bastante hostis e que prometiam arrasar mais um início de noite...

Quando eu saía da sala, ocasionalmente permitido, me permitia descer à pré-escola. Esperava a aula de ensino religioso e então dizia que não passava muito bem. A professora, para o nosso total espanto, convidava-me a sair da sala para "tomar um ar".

Adorava aquele momento de glória que, por tão curto, tornava-se extremanente bom. A Escola é grande e eu passeava pelos jardins, burlando a aula de religião da professora prestativa. Descia e ia "dar um oi" a minha mãe, que já esperava meu irmão na saída, no mesmo lugar onde chorei várias vezes esperando ela, que não precisava se atrasar muitos minutos para eu pensar que nunca mais iria me buscar.

Na biblioteca, eu sei lá porque adorava sentir aquele cheiro de antigo. Aquela atmosfera de mofo, tradicional, estanque, rígida... Regras e mais regras. Como eu tinha medo de regras! E como quis segui-las com tanto desespero! "Ciência, Trabalho e Oração": essa era a bandeira.

Mas apesar de tudo isso, eu acho que ali vivi alguns dos melhores anos da minha vida. Minha única escola. 15 anos de vida. A disciplina intransigente, o código de conduta lido e relido pelos professores, as aulas de artes industriais, a música clássica nos intervalos das aulas... Tudo isso me vem à memória de uma forma tão clara...

Havia um medo, mas havia também um prazer tão grande quando ele era suplantado. Um prazer tão desejável que uma tarde cinzenta podia significar um belo fim de dia. E eu duvido que o tempo passava com a mesma velocidade de hoje. Duvido!


Ouvindo: Luna Marinara - Pavarotti

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