A Arte. Existe algo mais enigmático do que a Arte? Talvez o amor? As inquietudes humanas (tirando os 80% de fundo amoroso)? Enfim, pode até haver. Todavia, a Arte se constitui em algo ímpar, inigualável a qualquer outro tipo de manifestação da natureza humana. E inigualável em todos os sentidos.
O mais intrigante, e instigante, é como a Arte tem a capacidade de tocar na mais profunda faceta da existência humana. Por que nos emocionamos ao ouvir determinada peça musical ou ainda assistindo a um espetáculo?
Não nos esqueçamos, no entanto, que Arte está intimamente relacionada, juntamente com seus padrões estéticos, à estrutura cultural de um povo. Assim, o que pode ser apreciado por alguma cultura pode ser totalmente execrado por outras. Consideremos, pois, todo o aparato possível de “óculos sociais”, bem como o arcabouço intelectual empírico de cada indivíduo.
Feitas as devidas ressalvas e voltando ao assunto mais interessante, a Arte pra mim, seja em que cultura for, é importante na medida em que consegue se identificar com a nossa essência, comungar com a nossa mais íntima subjetividade, sem que para isso tenha que pedir algum tipo de autorização. Ela nos comove de uma forma singular. Seus efeitos são sentidos por nós numa perspectiva tão inconsciente que não podemos, muitas vezes, controlar nossas próprias reações psicofisiológicas. Digo: não controlamos uma lágrima, um nó na garganta ou ainda uma reflexão após o contato com alguma obra que nos marque.
E é essa, a meu ver, a função da Arte. A de promover a libertação humana, mas num sentido abrangente. Abrangente numa concepção que talvez poucos me compreendam.
Por isso que considero o Teatro como algo realmente impulsionador na vertente da transformação social. Não como títere da comédia e do drama. Não como corpo reificado pra fazer rir, chorar ou simplesmente distrair. Muito menos algo que faz da “quarta parede” um obstáculo intransponível e do palco uma trincheira da realidade social.
Teatro é muito mais que isso. E deve ser muito mais que isso. Deve ser encarado como agente instigador de reflexão. Para “mudar o mundo”? Não. Para mudar as pessoas.
Se temos a “iluminação” suficiente para detectar algumas das enfermidades que acometem a sociedade atual, por que não apresentá-las para essa mesma sociedade sob a forma de Teatro, lançando mão das peculiaridades da Arte? Por que não promover alguma “diferença”, mesmo que exígua, nessa nossa realidade?
Não sejamos medíocres! Não caiamos no senso comum! Talvez essa curta existência seja única: pra que torná-la algo tão cego e descabido?
*To be continued…
"Maculada Sanidade", de Flávia Junqueira.
(Obra que conheci hoje e que, por um acaso, tem tudo a ver com o meu texto. Mais: Clique aqui).
2 comentários:
Nossa! Exatamente aquilo que a gente discutiu... E você foi bem mais a fundo hein, Rido! Gostei bastante! Agora quero ver a continuação!
Isso é apenas um mínimo daquilo que a gente almeja!
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