quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Bizarrices – Episódio 1

Saindo um pouco dos posts existenciais, vou falar de algumas coisas engraçadas/bizarras/“nada a ver” que aconteceram comigo. Na falta de outro nome, chamo a série de “Bizarrices”. Neste episódio será apresentada a primeira aventura.

Estava eu em casa quando resolvi ir até a farmácia colocar créditos no meu Bilhete. Cumprido o objetivo, saí do local e comecei a andar pela rua, acompanhado das minhas fatídicas observações. Quando ia atravessá-la, olhei para ver se estava livre. Ao olhar, estava vindo um dos ônibus que tinham como destino o Anhangabaú.

Sabe aqueles lapsos que te dão, de conseguir pensar em dez coisas num centésimo de segundo? Então. Tive um desses. Quando li a indicação do destino do ônibus, me deu uma vontade enorme de ver o centro velho dessa cidade, aquele lugar que a maioria das pessoas julga como “sujo”, “mal-freqüentado”, “poluído”, enfim, são várias as qualificações negativas.

O ônibus parou no ponto e eu, numa decisão de um segundo, entrei com uma ânsia impressionante de sentir aquela atmosfera, que, ao mesmo tempo em que se mostra degradada e grotesca, me atrai de uma incrível maneira.

E foi isso que senti. Pisar naquele centro, às oito e meia, nove horas da noite, foi pra mim como um cigarro pro fumante inveterado, pra não dizer outras coisas. Aquele Municipal, com suas luzes verdes, permeado de pedintes e pessoas que correm pra casa depois de mais um dia de sobrevivência! Aquilo me encanta. Mendigos sentam naquelas escadarias, olham aquelas esculturas e inscrições (“Verdi”, “Bizet”, etc.), talvez sem a mínima noção do que representam.

O Viaduto do Chá dando passagem àquele mundaréu de gente! A Prefeitura, naquele lendário e contraditório prédio, cercada, com medo da invasão de uns integrantes do MST que ali estavam acampados.

A Líbero Badaró então me leva até o Largo São Francisco. Esse caminho foi meio complicado, uma vez que a rua já tava bem deserta. Mas fui me dar conta disso só depois, quando já via o prédio da Faculdade de Direito. Como aquele ar me fazia bem! Como aquilo me satisfazia!

Claro que tive um pouco de receio nessa hora. Umas pessoas começaram a me olhar: “O que esse menino faz aqui a essa hora da noite?”, “Ele não é desse mundo!”. Foi então que comecei a apertar o passo até a Praça da Sé, onde o movimento de pessoas era um pouco maior. E fui andando até fechar o trajeto, passando pelo Pátio do Colégio, pelo Mosteiro de São Bento e pegando novamente a Líbero. Senti um misto de medo e prazer. Prazer pela transgressão? Ou por ter algo em comum com aquele cenário?

Voltei então ao Viaduto do Chá, onde, apoiado naqueles cansados tubos que guarnecem a passagem, fiquei admirando o Anhangabaú, que, por sinal, estava muito mal iluminado. Mas isso nem fez diferença. Vi coisas ali que nem a luz do dia poderia me mostrar com tanta nitidez.

Avistando o Viaduto Santa Ifigênia, tive a lembrança de um dia que marcou muito a minha vida, um dia em que o silêncio daquele lugar era ferozmente suplantado pelo turbilhão de sentimentos que se instalava dentro de mim.

Saí dali bem feliz. Caminhei até o ponto mais próximo e ali esperei meu ônibus, aproveitando aqueles restinhos de Centro. Então, de ônibus, refiz todo aquele meu caminho, agora um pouco mais tranqüilo.

E voltei. Não imaginava que sensações tão boas estavam à minha espera. Como aquilo me fez bem! E nem foi planejado! Nada! Nada!

Alguns podem achar isso “meio estranho”, outros, “muito estranho”. Enfim, me fez muito bem. Que foi excêntrico, ninguém pode negar.

Ah, um detalhe: tudo isso ao som de umas músicas recentemente a mim apresentadas. Destaco um trecho de uma delas:

Louder, louder

And we'll run for our lives
I can hardly speak I understand
Why you can't raise your voice to say

Run – Snow Patrol

Foto: Vale do Anhangabaú.
(Créditos: Felipe Aguillar)

Um comentário:

Guilherme Genestreti disse...

Haha, Rido! Muito bom! Gostei da forma como você trabalhou o texto! Excelente! Aliás, conheço esses caminhos hein? E conheço essa música também! Abraço