sexta-feira, abril 06, 2007

Gnossienne N.3

Nossa! Que sensação estranha essa que acabei de ter dentro do meu quarto! Espaço vazio, casa vazia, sem o único amigo daqui que ainda me resta! Minha mãe me liga e faz chantagem emocional. Falo com meu amigo, que está em outro estado. Que saudade! Que saudade de pessoas! De ver pessoas!








Porque o que aqui eu tenho é um indivíduo que me torra a paciência todos os dias; um ser que se esconde atrás de uma religião e acha que está imune a todo o mal que proclama. Será mesmo que está? Chego e os olhos dela e sua modesta corja (faço justiça a alguns, que são pessoas de bem, admito) me acompanham até minha porta; olhos que me concebem de acordo com o julgamento à revelia que ela já fez de mim durante o seu fatídico jantar de "Sexta-feira santa". Tenho certeza que comentaram a minha passagem pela cozinha, assoberbado, dizendo um "boa noite" falso, convencional e sem nenhum efeito. O meu trash pedágio.

Uma situação horrível, após momentos tão especiais que passei hoje. Bem que uma professora minha dizia que não há nada melhor nesse mundo que uma ótima companhia. Não há, viu! Não há. Passar momentos tão agradáveis, tão especiais, tão mágicos. Trocar desejos, confidências, existencialidades... Uma companhia singular porque está totalmente sintonizada comigo no momento; dedica a sua atenção de forma tão tocante... Me faz confiar tanto nela... E eu a entendo tanto! E ela me entende tanto! Como nunca outra pessoa me entendeu antes... Que bom! Que bom que pude encontrá-la! E eu digo, pleno, que valeu a pena viver até aqui.

É isso que me levanta. Fico chateado com as ocasiões cada vez mais constrangedoras pelas quais passo aqui, na minha própria casa. E esse quarto é o meu refúgio. O meu refúgio nesse ambiente hostil, que não me deseja. Mas me levanto e, após algum tempo me sentindo só, eu penso nessas coisas boas, lembro-me de flashes, de frases, palavras que eu poderia ficar ouvindo pelo resto da minha vida... Em plenitude.

Ouvindo Erik Satie.